UMA JOANINHA DENTRO DE UM SACO DE PLÁSTICO
UMA JOANINHA DENTRO DE UM SACO DE PLÁSTICO
Depois de uma violentíssima carga de água, o sol surgiu, brusco e agressivo na sua luminosidade.
Tínhamos de ir à cidade mais próxima, tratar de uma escritura e tudo o que dizia respeito a burocracia, punha-me louca furiosa.
Esbracejara toda a manhã com a minha empregada, que de atarantada, já perdera o ralo do lava-loiças, partira dois copos e deixara fugir o gato, de gesso na pata, qual pirata de perna de pau.
Para cúmulo, quando fora buscar uma amiga nossa e a minha filha, não as encontrara. Depois de uma data de voltas ao quarteirão, descobrira, que de facto, tinham vindo sim, mas que, por qualquer mágica perversa se tinham tornado invisíveis, atrasando-me assim meia hora.
Logo que deixei a minha filha em casa, rumei com a minha amiga para o notário, pedindo as horas de dois em dois segundos, pois ele, notário não se compadeceria de atrasos, embora na situação inversa, dê para escrever um drama de vinte capítulos e seiscentas páginas, no meio de assinaturas, discussões e senhas tiradas na máquina vermelhinha de balcão de carnes.
De súbito, ao passar junto de um contentor de lixo, gritei, histérica:
- Oh meu DEUS! Uma joaninha num saco de plástico!!!
A minha amiga que me vinha acalmando com aquelas frase feitas –“ ainda tem tempo ...dá perfeitamente para lá chegar” - ficou em silêncio.
Automaticamente, tirou os óculos, lentes fundo-de-garrafão, e limpou-os apressada.
Travei esbaforida, meto o pisca e toca de voltar, atabalhoadamente para trás, direitinha ao famigerado contentor.
Bruscamente a minha amiga sai da estupefacção:
- Mas conseguiu ver ???
E como eu nem respondesse, tal era a minha aflição, ela repetiu, com a voz a sumir de pasmo:
- Mas conseguiu ver ??? Uma joaninha dentro de um saco de plástico???
E como eu continuasse muda e concentrada na manobra do carro, afirmou completamente em estado de choque:
- É preciso ter muito boa vista !
Aí, eu gritei-lhe:
- Olhe! Está a ver ... ali ...dentro do saco de plástico !
E suspirando de alívio, rematei:
- Ah! É adulta e o que se vê dentro do saco é só a cabecinha, ela afinal está a comer.
Então a minha amiga percebeu. Uma gatinha de três cores, igual à minha "Joaninha" comia um petisco, perfeitamente tranquila.
Eu acho que só depois de termos saído do notário, é que a minha amiga descomprimiu do choque emocional e comunicou friamente:
- Quero comer a maior pizza que houver esta cidade!
É que eu ir a guiar e ver uma joaninha dentro de um saco de plástico a pelo menos uns seis metros de distancia, é obra.
Conto extraído da antologia "Gatos, gatinhos..."
2 Uivos:
Loba, vais ter que passar lá no meu canto, deixei-te um desafio.;)
beijo grande
:)) Muito bem descrito como sempre:))
Beijinho Bfs;)
João
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